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Como fazer com que as crianças experimentem novos alimentos?

 

Muitos pais acreditam que é da sua responsabilidade fazer com que os filhos experimentem novos alimentos. Afinal, como saberão se gostam de algo se nunca tentaram, certo? Errado!

Quero mostrar-te como podes apoiar a tua criança a comer de forma mais variada possível, SEM (realmente!) a necessidade de pressioná-la ou fazeres com que experimente novos alimentos.

Sabias que as crianças têm uma curiosidade natural sobre a comida? Espera, o quê? “O meu filho não é assim!” pensaste tu 😯 Sim, as crianças estão pré-programadas para serem curiosas sobre o mundo. Mesmo o teu filho! Já reparaste como ele passou ou está a passar por uma fase do “porquê”?

Perguntam “Porquê? Porquê? Porquê?” sobre tudo! Até achares que o teu cérebro vai implodir. 🤯

A curiosidade da tua criança sobre comida pode não ser tão óbvia. Mas acredita – ela está lá! Quanto mais espaço deres nas refeições, mais cedo ela surgirá.

 

O que motiva as crianças a experimentar novos alimentos?

Tu pedes, imploras e insistes. As crianças fazem birras, recusam e resistem. O que realmente ajuda as crianças a experimentar novos alimentos?

Se queremos que as crianças cresçam como comedores relaxados e confiantes, precisamos de apoiar a sua motivação intrínseca para comer, ou seja, precisamos de garantir que elas comem ou experimentam alimentos porque QUEREM, e não porque foram persuadidas 😉

Para querem experimentar novos alimentos, as crianças precisam de sentir o chamado de “Três C’s”:

 

Controlar: As crianças precisam de estar no controlo sobre como, quando e se experimentam novos alimentos. Deve ser totalmente decisão delas, sem qualquer sugestão da tua parte.

 

Conexão: As crianças precisam de saber que a relação com os pais nunca será afetada pela decisão de experimentar (ou não) um novo alimento. Elas precisam de acreditar que são boas o suficiente e amadas, quer escolham ou não experimentar algo novo.

 

Capacidade: As crianças precisam de ter acesso regular a novos alimentos no ambiente para se sentirem mais confortáveis e confiantes. Não há um número mágico de vezes que precisam de ver um alimento antes de o experimentarem – pode variar entre uma única vez, centenas de vezes ou nunca.

Para construir uma sensação de capacidade:

  • Inclui alimentos aceites.
  • Evita subdesafios (falta de variedade de sabores e texturas).
  • Evita sobre-desafios (uma salada de frutos do mar, por exemplo, pode ser demasiado).

 

 

Posso pedir ao meu filho para experimentar os alimentos? 🤔

O objetivo (na vida) não é que a tua criança experimente alimentos porque lhe pedem. É que ela ESCOLHA experimentar por vontade própria. Este é um hábito para a vida toda que leva tempo para se desenvolver, mas vale a pena esperar.

Se a tua criança for muito resistente a comer, consulta um profissional de saúde para verificar possíveis questões, como dificuldades sensoriais, desafios motores orais, ansiedade ou alergias, que possam influenciar a curiosidade natural dela.

 

Imaginas que a curiosidade alimentar pode ser veres o teu filho a devorar tudo na mesa, desde lulas a risotto de cogumelos! Isso é raro. A curiosidade da tua criança pode ser menos óbvia. Procura por estes sinais subtis:

  • O teu filho olha para um alimento?
  • Pega num alimento mas decide não comer?
  • Pergunta “O que é isso?”
  • Cheira a comida?
  • Observa-te enquanto comes ou olha para o teu prato?
  • Esmaga comida com os dedos?
  • Gosta de alguns alimentos mais do que outros?
  • Brinca com comida na sua cozinha de brincar ou aponta para imagens nos livros?

 

👆🏽 Estes são sinais de curiosidade natural. Confia no processo. Se estiveres muito preocupada com a alimentação do teu filho, pode ser ainda mais difícil confiar na curiosidade natural dele. Podes precisar de trabalhar também a tua própria preocupação.

 

Como despertares a curiosidade alimentar do teu filho?

O modelo de Divisão de Responsabilidades de Satter (podes saber mais CLICANDO AQUI ) afirma que é trabalho dos pais decidir o quê, onde e quando em tudo que envolva a alimentação, enquanto é trabalho da criança decidir quanto e se come (ou interage com) os alimentos fornecidos.

O importante é que a tua criança decida interagir com a comida por si mesma – sem ser incentivada por ti. É desta forma que a curiosidade surge naturalmente.

 

Uma outra coisa que ajuda a despertar a curiosidade dos alimentos é definir horários para comer. Dizem que “a fome é o melhor tempero”. Embora para algumas crianças seja necessário mais do que fome para se envolverem com alimentos, a fome ainda é um ingrediente importante. Por isso sugiro que definas um horário consistente com 3 refeições e 2 lanches por dia (2-3 horas de intervalo para crianças mais novas e 3-4 horas para mais velhas).

Quando a criança chega à mesa com fome, é mais provável que esteja curiosa sobre a comida.

💡 Às vezes, a falta de interesse por comida é simplesmente porque a criança não está com fome!

 

 

Comer em família é um bom remédio!

Comam juntos, mesmo que gostem de alimentos diferentes! As crianças aprendem observando os outros, então comer uma variedade de alimentos juntos é muito importante. E sabes que as crianças também gostam de se servir sozinhas? Quando se sentem autónomas também se sentem motivadas. Coloca todos os alimentos no centro da mesa, começando com os pratos vazios, e deixa cada um servir-se.

Inclui quantidades ilimitadas de 1-2 alimentos aceites pela criança em cada refeição. Isso ajuda a criar um ambiente relaxado, essencial para a curiosidade.

 

Estratégias práticas para lidar com seletividade alimentar

Respeita a divisão de responsabilidades na alimentação

  • Os pais decidem: O que, onde e quando a comida é oferecida.
  • As crianças decidem: Quanto e se vão comer.

 

Cria um ambiente descontraído durante as refeições

  • Senta-te à mesa com a criança.
  • Fala sobre assuntos agradáveis, sobre o dia-a-dia e não sobre a comida.

 

Introduz novos alimentos, sem pressão

Existem maneiras de apresentar novos alimentos que podem torná-los um pouco menos assustadores para o teu filho. Podes experimentar: Servir porções muito pequenas de novos alimentos. Mesmo pequenas: ao ponto de apresentares, literalmente, uma ervilha. Permitir que se sirva sozinho, colocando um novo alimento cortado em pedaços muito pequenos num prato no centro da mesa e ser ele a colocar no seu prato. Servir alimentos com uma variedade de utensílios, como garfinhos divertidos e seguros para crianças ou espetos. Combinar novos alimentos com molhos ou condimentos já conhecidos e que a criança gosta. Oferecer alimentos que sejam uma pequena variação de um alimento já aceite (como um novo sabor de smoothie, uma nova marca de pão ou um formato diferente de massa). Sempre que for seguro, deixa a criança ver os alimentos mudarem de forma (por exemplo, observar um alimento familiar a ser triturado no liquidificador, ver um queijo favorito a derreter ou acompanhar o pão a transformar-se em torrada).

Ah! Serve pequenas porções (mesmo pequenas) de alimentos novos ao lado dos alimentos preferidos da criança. E lembra-te a exposição não precisa de ser na mesa pode ser na cozinha, na horta, no supermercado – ajuda na familiarização com novos alimentos.

 

Envolve a criança na preparação das refeições

  • Pede ajuda para lavar vegetais, misturar ingredientes ou montar pratos.
  • As crianças que participam na preparação sentem-se mais confiantes em experimentar.

 

O que evitar ao lidar com crianças seletivas?

Não forces a criança a comer: Frases como “só mais uma garfada” criam resistência.

Evita subornos ou recompensas: Oferecer sobremesas ou elogios por comer pode reforçar a ansiedade em torno da comida.

Não critiques ou compares: Comentários negativos podem prejudicar a confiança da criança.

 

Referências:

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Daniels, L. A. (2019). Feeding practices and parenting: A pathway to child health and family happiness.

Annals of Nutrition and Metabolism,74(2), 29-42.

Jo’s and Katja’s STD paper

Satter, E. M. (1986). The feeding relationship. J Am Diet Assoc, 86(3), 352-356.

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