Cada vez mais ouvimos que doces ou chocolates não pode ser algo bom, certo? Que devem ser restringido e nem se deve ter em casa para as crianças (e os adultos!) não comerem. Parece que é o nosso papel como pais garantir que as crianças comem com moderação, não é? Sabias que restringir tem o efeito oposto ao pretendido, tornando as crianças mais obcecadas com os alimentos que são restringidos?
Vamos colocar o chapéu de investigadores
É totalmente compreensível sentires-te desconfortável ao deixares o teu filho comer até sentir que já chega, especialmente com todas as mensagens que recebemos sobre peso, nutrição e saúde. O que muitas pessoas não sabem é que as pesquisas demostram claramente que restringir tem o efeito oposto ao pretendido, especialmente para crianças que têm mais dificuldade em regular o próprio apetite (comer quando têm fome e parar quando estão satisfeitas).
Foram analisados varios estudos que ligam a restrição alimentar dos pais aos hábitos alimentares das crianças e confirmaram que “as tentativas dos pais de restringir a quantidade e o tipo de alimentos, podem ser contraproducentes para ensinar as crianças a comer em resposta aos sinais de fome e saciedade”.
E hoje em dia somos bombardeados por mensagens que fazem parte da cultura de dietas e que nos levam a acreditar que proibir as crianças de comer determinado alimento, faz parte do que é ser um bom pai ou mãe. Na verdade, a restrição torna ainda mais difícil que as crianças comam em resposta aos sinais do seu corpo.
Ok, como posso parar de proibir o meu filho de comer alguns alimentos?
Primeiro, lembra-te de que não precisas oferecer quantidades ilimitadas de tudo – é normal restringir um alimento porque é caro ou precisa ser partilhado com toda a família. Experimenta, ocasionalmente, oportunidades conscientes para o seu filho pedir (e receber) segundas, terceiras ou até quartas porções. Planeia isto (talvez uma vez por semana?) para se habituar a não restringir e dar à criança a chance de trabalhar as suas capacidades de autorregulação.
📌 Importante: Não deixes que a criança perceba que isto é planeado – o ideal é criar uma sensação de segurança em relação à comida, sem preocupações de não ter o suficiente ou ver os doces racionados.
E se tens restringido alimentos há muito tempo, pode levar vários meses para a criança se habituar ao novo método. Durante esse período, ele pode parecer comer além do que é necessário para saciar a fome e perceber que o acesso ao alimento não está totalmente condicionado.
Qual é o objetivo final?
O teu objetivo é evitar que certos alimentos sejam colocados num pedestal e que se tornem banais. O ideal é criar um ambiente descontraído onde alimentos altamente apetecíveis, como doces ou sobremesas, estejam disponíveis às vezes, mas sem serem tratados de forma especial.
Se adotares o mantra “comida é comida”, uma nova atitude relaxada será passada para os teus filhos e, paradoxalmente, eles ficarão menos obcecados com esses alimentos!
Resumo
➡️ Lembra-te de que o objetivo a longo prazo é criares uma criança com uma relação saudável com a comida.
➡️ Restringir alimentos muitas vezes resulta no efeito oposto.
➡️ Regularmente permite que as crianças tenham múltiplas porções dos alimentos favoritos, para que não fiquem obcecadas com eles.
Referencias:
Grammer, A. C., Balantekin, K. N., Barch, D. M., Markson, L., & Wilfley, D. E. (2022). Parent-Child influences on child eating self-regulation and weight in early childhood: A systematic review. Appetite, 168, 105733.
Rollins, B. Y., Savage, J. S., Fisher, J. O., & Birch, L. L. (2016). Alternatives to restrictive feeding practices to promote self‐regulation in childhood: a developmental perspective. Pediatric obesity, 11(5), 326-332.