Os pais preocupam-se frequentemente com o quanto os filhos adoram açúcar. Mas adivinha? É absolutamente normal que as crianças gostem e procurem sabores doces. Isso tem até uma base biológica: os seres humanos nascem com uma preferência inata por alimentos doces porque elas eram fontes seguras de energia ao longo da evolução.
Embora o excesso de açúcar na dieta alimentar infantil seja motivo de preocupação, pequenas quantidades de açúcar adicionado podem ser perfeitamente seguras e, em alguns casos, até benéficas. Porquê? Porque o açúcar pode servir como uma “ponte” para ajudar as crianças a experimentar novos alimentos e sabores, facilitando uma introdução mais diversificada à dieta. Saber quanto açúcar é seguro para as crianças pode ajudar os pais a encontrar o equilíbrio certo.
Sabias que alguns estudos demonstram que a sensação de “não consigo parar de comer açúcar” está frequentemente ligada à restrição? Quanto mais certos alimentos são restritos, mais o corpo os deseja e maior se torna a sua atractividade. É a ciência que o diz, não sou eu.
O Equilíbrio é a Chave
Haverá dias em que o teu filho consumirá mais do que a quantidade recomendada (como no Natal, no Halloween, festas de aniversário ou outras ocasiões festivas!) e haverá dias em que consumirá muito menos. No geral, isso tende a equilibrar-se ao longo do tempo!
Por que as crianças gostam tanto de açúcar? 😩
Bem, a maioria de nós gosta de açúcar, verdade? Mas, às vezes, parece que as crianças são ainda mais atraídas por alimentos doces. Por que é que isso acontece? O leite materno, as fórmulas infantis e até mesmo o leite de vaca têm um sabor doce, então as crianças estão familiarizadas com esses sabores desde o início. E os alimentos com sabor doce são ricos em hidratos de carbono e fornecem energia de rápida absorção, que é exatamente o que as crianças procuram – isto explica por que elas são atraídas por esses sabores.
E sabias que os sabores doces também podem indicar que um alimento é uma escolha segura? Pensa nos tempos pré-históricos – escolher alimentos doces, como frutas, e evitar sabores amargos ou tóxicos ajudava a evitar que os pequenos fossem envenenados enquanto procuravam comida.
Os ambientes alimentares são mais seguros hoje em dia – mas esses mecanismos de sobrevivência permanecem escritos em nós!
O consumo de açúcar do meu filho está fora do controlo?
Todos nós temos as nossas próprias preferências e composição genética que influenciam o quanto gostamos de coisas doces. E na realidade, o que pode parecer muito açúcar para ti pode ser exatamente o que o teu filho precisa neste momento para crescer e atender às suas necessidades de energia.
Portanto, gostar e procurar açúcar é normal. No entanto, sentir-se fora de controlo em relação a ele é que não é.
Sentir que simplesmente não consegues parar de comer açúcar é, provavelmente, um sinal de privação. Quanto mais esses alimentos são restringidos, mais o corpo os deseja e mais atraentes esses alimentos se tornam.
Qual a dose limite de açúcar para uma criança?
Primeiro, vamos por partes! O açúcar é um termo muito amplo e incluí designações com significados diferentes. Existem diferentes tipos de açúcar:
- Os açúcares naturalmente presentes – na fruta, nas hortícolas, no leite, nos lacticínios.
- Os açúcares livres (ou adicionados)– os monossacarídeos e dissacarídeos adicionados aos alimentos pela indústria ou pelo consumidor
- A soma dos açúcares naturalmente presentes e dos açúcares livres tem o nome de açúcares totais.
Sempre que analisas um rotulo é a quantidade de açúcar livre que vês quantificada como hidratos de carbono “dos quais açúcares” na tabela nutricional. Este açúcar pode aparecer na lista de ingredientes de diversas formas e com diferentes designações: frutose, sacarose, lactose, glicose/glucose, xarope de glucose, xarope de milho, xarope de agavedextrose, maltodextrina, extrato de malte, açucar invertido, amido miodificado, melaço, mel.
A ESPGHAN (Sociedade Europeia de Gastroenterologia Pediátrica Hepatologia e Nutrição) recomenda limitar os açúcares livres até 16 gramas/dia para crianças entre os 2 e 4 anos, e até 20 gramas/dia para crianças entre os 4 e 7 anos. Consulta a tabela abaixo:
Podes ver que na tabela não aparecem referências para crianças com menos de 2 anos, pois não devem oferecer açúcares livres a crianças com menos de 2 anos.
Não precisamos limitar os açúcares naturalmente presentes, porque eles vêm acompanhados de um pacote nutritivo. Os alimentos como o leite e as frutas contêm muitos outros nutrientes – são realmente benéficos para incluir na dieta, então o açúcar não é uma preocupação.
Por outro lado, quando falamos de sumo, concentrado ou polpa de fruta, grande parte desse pacote nutritivo é removido quando o sumo é espremido da fruta. É preciso uma quantidade enorme de fruta para os fazer e por isso devem ser evitados igualmente.
É Tudo uma Questão de Equilíbrio
Limitar o consumo de açúcar não significa ser rígido ou obcecado com o número de gramas ingerido diariamente. Trata-se de encontrar um equilíbrio saudável.
✅ Para crianças com menos de 2 anos tenta evitar alimentos com açúcares livres. Sabemos que nem sempre é fácil, especialmente se tens filhos mais velhos em casa. Às vezes, #acontecenasmelhoresfamílias.
✅ Para crianças com mais de 2 anos dá uma olhada nos rótulos dos alimentos do dia a dia, como iogurte, barras de cereais ou muffins, para veres quanto açúcar contêm. Afinal nós somos responsáveis pelo que os nossos filhos comem (direcionar para o artigo da divisão de responsabilidades)
Depois, procura manter o consumo dentro do valor recomendado, em média.
🎉🥳 Haverá dias em que o teu filho consumirá mais do que a quantidade recomendada (como no Halloween, festas de aniversário ou outras ocasiões festivas!), mas também haverá dias em que consumirá muito menos. No geral, tudo se equilibra!
Pensa na alimentação do teu filho ao longo de vários dias ou da semana, em vez de te preocupares excessivamente com a quantidade de açúcar consumida num único dia.
Conclusão
Gostar e procurar açúcar é totalmente normal e não é algo com que devas preocupar-te. Se as crianças (ou adultos!) se sentem fora de controlo em relação ao açúcar – como se simplesmente não conseguissem parar – isso sim pode ser um sinal de que os alimentos doces estão a ser excessivamente restringidos.
➡️ Lembra-te: Gostar e procurar açúcar é normal.
➡️ Evita restringir demasiado o açúcar – quanto mais for restringido, mais desejado se torna! O consumo de açúcar não precisa de ser rastreado obsessivamente, mas o equilíbrio é crucial.
➡️ Não te preocupes com os açúcares naturalmente presentes em alimentos como leite e frutas.
➡️ Verifica os rótulos para identificar açúcares adicionados ou livres, que podem aparecer de muitas formas.
➡️ Evita todos os açúcares adicionados na alimentação de crianças pequenas.
➡️ Para crianças mais velhas, tenta limitar o consumo de açúcar a 5-6 colheres de chá por dia.
Gostaste deste conteúdo? Subscreve a nossa newsletter para mais dicas sobre alimentação infantil responsiva!
- Loth, K. A. (2016). Associations between food restriction and pressure-to-eat parenting practices and dietary intake in children: a selective review of the recent literature.Current Nutrition Reports, 5(1), 61-67.
- Chi, Donald L, and JoAnna M Scott. “Added Sugar and Dental Caries in Children: A Scientific Update and Future Steps.” Dental clinics of North America vol. 63,1 (2019): 17-33. doi:10.1016/j.cden.2018.08.003
- Fidler Mis, N et al. Sugar in Infants, Children and Adolescents: A Position Paper of the European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition Committee on Nutrition. J Pediatr Gastroenterol Nutr 2017; 65(6):681-696.
- Vos, M. B., Kaar, J. L., Welsh, J. A., Van Horn, L. V., Feig, D. I., Anderson, C. A., … & Johnson, R. K. (2017). Added sugars and cardiovascular disease risk in children: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation, 135(19), e1017-e1034.
- Lott M, Callahan E, Welker Duffy E, Story M, Daniels S. Healthy Beverage Consumption in Early Childhood: Recommendations from Key National Health and Nutrition Organizations. Consensus Statement. Durham, NC: Healthy Eating Research, 2019.
- Heyman, M. B., & Abrams, S. A. (2017). Fruit juice in infants, children, and adolescents: current recommendations. Pediatrics, 39(6).
- Fisher, J. O., & Birch, L. L. (1999). Restricting access to palatable foods affects children’s behavioral response, food selection, and intake. The American journal of clinical nutrition, 69(6), 1264-1272.